terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

QUATRO ANOS ATÉ AQUI...


Quatro anos até aqui.

Engraçado ver como o tempo passa.

Antes de ontem vi o resultado do vestibular, ontem foi meu trote e hoje estou no último ano da faculdade.

Lembro-me bem do dia em que as aulas começaram, das pessoas com quem conversei, do primeiro dia de estágio. E hoje falta apenas um ano para acabar esta etapa. No meio de dezembro minha chefe perguntou: “TOD, vc já se deu conta que estas são suas últimas férias de verão como estagiária”. Foi então que caiu a ficha. Olhando para trás, vejo quanta coisa aconteceu neste período.

Amigos vieram, amigos se foram, amigos voltaram.
Amores vieram, amores se foram.
Amigos casaram.
Bebês nasceram.
Lágrimas caíram e sorrisos brotaram.
Shows inesperados e bandas novas apareceram.
Experiências, aventuras, mudanças.

Cada dia destes pouco mais de 1400 dias foi diferente e alguns dos momentos e experiências jamais voltarão, foram singulares.

Algo que eu sempre penso no final de cada ano se fez realmente real: “Este acabou de um jeito e o próximo ano não vai acabar como começou”. É meio redundante dizer isso, mas é a verdade.

É incrível analisar as transformações que podem acontecer ao longo de 365 dias!

Não que isso seja ruim, de certo modo é bom. Entretanto, não sou uma pessoa muito adepta de mudanças, apesar de ter aprendido a conviver com elas. Fazem parte da vida e é algo intrínseco ao ser humano.

Este ano, especialmente, posso dizer que as mudanças (em relação aos anos anteriores) foram mais agradáveis e surpreendentes. Sem entrar no mérito, seguramente foi o ano mais difícil e puxado da faculdade, ao passo que foi o mais prazeroso. Aprendi a não entrar (tanto) em desespero e levar as provas (e DPs) de boa. De outra parte, conheci pessoas novas e queridas, encontrei uma igreja extremamente cativante, formei uma família sem comparações chamada PA e ganhei amigos sem os quais hoje não sei viver sem, viajei com pessoas especiais, comprei um xbox e fiz coisas que jamais pensei algum dia fazer.

O esperado (e temido) momento de prestar a OAB chegou. Apresentar o TGI que parecia ser algo distante está cada vez mais perto. Tomar banho e pensar nas pessoas que não posso esquecer de citar nos agradecimentos está virando rotina. A insônia vem fazer uma visita todas as noites, viramos amigas e presencio a luta entre ela e Morpheu para ver quem toma conta da minha atenção. Ela sempre ganha, é claro.

As mudanças e reviravoltas ao longo de 4 anos são gritantes. A quantidade de pessoas que passaram pela minha vida e a pequena parcela que permaneceu é curiosa. As experiências, as coisas novas, o amadurecimento e o tempo foram relativamente (sim, relativamente) bons.

Trabalhar, estudar, pagar contas, cuidar do ap, cuidar de 5 meninas. Há 4 anos atrás eu nem imaginava isso. Aliás, é estranho pensar que, em algum momento da minha vida, eu ia pra escola de manhã, dormir na parte da tarde e via filmes e desenhos a noite.

Enfim, agora que falta pouco para acabar, paro pra pensar no curso que as coisas tomaram e vejo como Deus tem sido cuidadoso e carinhoso. É claro que neste caminho todo, apareceram pedrinhas e buraquinhos para atrapalhar, mas não me lembro de passar por eles sozinha. Lembro, sim, dEle estar comigo em cada momento me dando a mão e muitas vezes carregando no colo (naqueles momentos em que andar com as próprias pernas já não era mais possível).

Falta menos de um ano para a virar uma pessoa de verdade. Olho para os quatro que já passaram e só tenho a agradecer por tudo e criar coragem para enfrentar o último [e mais pesado, mas não menos importante] ano.

É mais ou menos assim.

“E se eu pudesse voltar, faria tudo de novo. Apenas aumentaria a intensidade a pararia o tempo”.

DIXI!



Essa foto? Primeira semana de aula da faculdade: fevereiro de 2009!


sábado, 16 de fevereiro de 2013

PROVAS DE SUFICIÊNCIA

Interessante...

Provas de suficiência

"Todo texto é uma máquina preguiçosa pedindo ao leitor que faça uma parte do seu trabalho".

Umberto EcoSeis passeios pelos bosques da ficção

O Oscar tem um filho, Tomás. O Tomás tem um filho, João. O João tem um filho, Pedro. O Pedro tem um filho, Antônio. O Antônio tem um filho, Francisco. E o Francisco tem uma dúvida. De fato, ele sabe dizer qual é a relação parental entre ele e Pedro, que é o pai do seu pai. Daí pra cima, nada! Oscar, por exemplo, avô do seu avô, o que é dele? E Tomás?
Eu disse que ele tem uma dúvida, mas retifico. Ele tem duas dúvidas. Sua namorada é a Maria Aparecida, que só fala em casamento. A dúvida dele: se eles se casarem, ela será sua parente? Se for, qual o grau desse parentesco?
Pensando bem, suas dúvidas são três. Eis a terceira: se a noiva se chamasse Dilma e se ele se casasse com ela, ela seria sua parente ou sua parenta?
É que o Francisco entrou para a faculdade de Direito (quem entra na faculdade é o carteiro, mas ali não assiste os professores, até porque quem assiste os professores é o médico, já que os alunos assistem às aulas dos professores) e está encontrando alguma dificuldade em entender o que alguns professores dizem.
Por exemplo, quando o professor fala em "bem fungível" o Francisco deve incluir aí a sua Cidinha ou não? O professor mostrou a diferença entre coisa útil, coisa necessária e coisa supérflua. A serra elétrica que o Chico tem em casa é coisa necessária, útil ou supérflua?
Embora esteja no primeiro ano, ele trabalha como "fórum boy" no escritório de advocacia de um amigo de seu pai. O tal advogado entrou com uma ação junto à Vara de Família e pediu a concessão antecipada da tutela reclamada, a ser concedida "inaudita altera pars". Você acha que isso está certo? Pior: o curador de família deu um parecer dizendo que os argumentos da pretensão vêm de encontro à opinião da doutrina. O advogado quer saber se o promotor concordou ou discordou dele. Que lhe parece?
Não bastasse isso, a juíza que recebeu os autos mandou retificar a petição inicial porque está dirigida ao "Exmo. Sr. juiz de Direito" e ela é uma "Exma. Sra. juíza de Direito". Como você faria no futuro para que outra juíza não se abespinhasse com um cabeçalho que ela reputa machista?
Perguntas semelhantes a essas eu costumava apresentar a meus alunos, no século passado, muitos dos quais ainda viam nas petições do escritório onde trabalhavam coisas como "E.R.M." e "Nestes termos pede deferimento", conforme me relatavam no intervalo de aulas. Tem sentido isso? Que pode me acontecer se eu omitir essas velharias?
Já na primeira aula eu dava uma indicação de como seria o curso. Entregava a cada um deles uma folha de papel com algumas indagações, precedidas de uma observação: "Leia com atenção toda a folha e depois faça o que vem determinado". Depois disso vinham os itens a serem obedecidos:
1. Nome:
2. Matrícula:
3. Data de nascimento:
4. Se você for do sexo masculino, assobie a primeira estrofe do Hino Nacional Brasileiro
5. Se você nasceu em outro Estado da Federação, fique de pé e erga o braço direito
6. Se você tiver filhos, fique de costas para a lousa
7. Se você trabalha, além de estudar, erga os dois braços
8. Se você fala uma segunda língua, bata palmas
9. Se você for viúvo, rasgue a folha
10. gora que leu tudo, atenda apenas as primeiras duas determinações
Eu não fazia isso por sadismo, mas para que aprendessem que um advogado, um promotor, um juiz ou mesmo um delegado de polícia somente deve iniciar o seu trabalho depois de ter conhecimento de todos os dados do problema a ser por ele equacionado. Ou passará a mesma vergonha daqueles alunos que, açodadamente, foram atendendo às determinações por mim feitas antes de ler a última e caíram no ridículo.
Além disso, ficava a lição de que, antes de utilizar uma palavra ou uma expressão incomum, especialmente se for em língua estrangeira, o profissional do Direito deve certificar-se do seu exato sentido e de sua correta grafia, até porque há alguns conceitos ou redações vulgares que não correspondem ao conceito ou à redação técnicos, como se dá com a palavra "tataravô". Quem é seu tataravô? Tataravô ou tetravô? E seu trisavô?
E chega de fazer perguntas. Agora quero saber das respostas. No fim da próxima semana darei as notas aos alunos que voluntariamente acederam a este desafio. Como diz o Umberto Eco, "que problema seria se um texto tivesse de dizer tudo o que seu receptor deve compreender. Não terminaria nunca".
Mãos à obra, pois.